Disintegration Artista: Daniela Uhlig |
Conto publicado no Beco do Crime
Partes da Arte
Ficção
Odeio quando ela deixa o olho cair no café.
Sempre espirra em cima da mesa.
Tudo bem que aquele emprego paga uma grana legal, mas deve ter outras opções para ela trabalhar como modelo.
Pego outro biscoito e volto para o estúdio.
Mais um filme trash para fazer a trilha sonora só depois de editado. Prazo apertado.
As horas passam enquanto as notas saem pelas caixas de som.
O diretor achou legal o tema que fiz compus para a mocinha.
Foi um trabalho caprichado colocar as mensagens subliminares dentro da música. O público fica com medo sem perceber que a melodia está fazendo seu serviço.
Ela tem belos olhos e agora são gélidos e magnéticos com a música.
Chegam suas mãos deslizando em mim. Relaxa-me. Ela sempre vem aqui antes de ir para o trabalho.
Deixo o gravador ligado, continuo tocando enquanto ela me satisfaz sem se importar se estou olhando para as imagens na tela.
Às vezes os pontos sobre alguma parte da pele dela me arranham. É sempre assim.
Aproveito gravar os gemidos sufocados dela para colocar noutra mensagem subliminar. Fica ótimo nas partes em que o mocinho aparece espancando outro daqueles monstrinhos verdes.
A boca dela é perita nisto. Mas às vezes o olho cai com o movimento ou o joelho sai do lugar de novo. Já acostumei com as juntas que estralam. Preciso comprar um tapete novo, este já está gasto onde ela se ajoelha.
Acabo perdendo algumas notas quando meu corpo liberta seu prazer. Ela coloca o olho de volta enquanto passa as mãos no rosto. Ela sempre faz aquela cara de quem comeu um sorvete no melhor dia do verão.
Ela ajeita o corpo cheio de marcas irregulares, me beija na face e sai para o trabalho.
Ela não se importa de trabalhar como modelo vivo.
É uma boa grana e o Dr. Frankenstein sempre foi muito generoso.
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Gilberto Strapazon
10/05/2012
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