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Sobre Tratamento Respeitoso Com os Espíritos
Eu sempre tive para mim mesmo a idéia de uma abordagem respeitosa com as esferas espirituais e foi assim que desde o início eu tive oportunidade de explorar vários reinos, mesmo sem ter treinamento formal que só muito depois foi adicionado e é trabalho de décadas.
Mas basicamente ser respeitoso com todas esferas e observando a importância de que isso deve ser mútuo.
Cito aqui um trecho da descrição do grupo “Solomonic - Secrets of the Magickal Grimoires” de Aaron Leitch:
"We work with the spirits from a standpoint of mutual respect. We do not manipulate, deceive, threaten, torture, imprison, or otherwise treat the spirits like slaves. We establish relationships with our patrons and familiars that both we and they find mutually beneficial over a lifetime."
"(Tradução): Nós trabalhamos com os espíritos do ponto de vista de respeito mútuo. Nós não manipulamos, mentimos, ameaçamos, torturamos, aprisionamos ou tratamos os espíritos como escravos. Estabelecemos relações com nossos patronos e familiares que tanto nós como eles encontramos mutuamente benéficos ao longo da vida."
Num de seus primeiros livros, Carlos Castaneda cita um dos ensinamentos de seu Mestre, Don Juan, que falou sobre o orgulho e a humildade de um Guerreiro espiritual.
"Hoje sei que a humildade de um guerreiro não é a humildade de um mendigo. O guerreiro não curva a cabeça para ninguém, mas ao mesmo tempo não permite que pessoa alguma curve a cabeça para ele. O mendigo, ao contrário, prosta-se de joelhos por qualquer coisa e lambe as botas de quem quer que ele considere superior; mas, ao mesmo tempo, exige que alguém que lhe seja inferior lhe lamba as botas.Porta para o Infinito - Carlos Castañeda"
Existe uma visão dualista quando a pessoa apenas entende a força bruta ou seu lado oposto. No fundo ambos se confundem pois o mendigo caso receba algum “poder”, vai tornar-se arrogante também com quem estiver abaixo dele. Não é por nada que a sabedoria popular tem um famoso ditado: “Se quer conhecer o verdadeiro caráter de uma pessoa, dê-lhe algum poder”.
O verdadeiro guerreiro espiritual reconhece que tem um lugar numa hierarquia maior que ele próprio e respeita os que estão abaixo dele tanto quanto respeita os que estão acima. Mas ele é íntegro nas suas atitudes para com todos e não vai se curvar nem tentar obrigar outros a isso.
Assim vamos perceber que tanto certos anjos quanto dæmons podem ser até bem difíceis de lidar. Têm imenso poder e nem sempre são muito amistosos. E alguns terão até maior facilidade de trato com pessoas diferentes.
Mas vejamos isso como o encontro de dois guerreiros. O magista, que na operação traz em si a imagem e semelhança de Deus, e evoca para si próprio o Poder Divino e atua dentro do seu próprio universo particular, seu círculo ou seu centro de poder que desenvolvemos ao nosso redor com o tempo.
Claro que existem outras abordagens ritualísticas, como a Luciferiana e da Demonolatria que tem outras dinâmicas nessa parte.
Quando nos deparamos com um espírito, então seria natural que uma abordagem respeitosa seja trata-lo com o reconhecimento pelo seu poder, sem se humilhar perante ele e nem sem tentar sobrepor-se em força.
São em geral espíritos obreiros, têm suas missões também a cumprir.
As vezes alguém pergunta sobre isso, sobre o por que os espíritos nos ajudam. Bem, simplesmente porque é o que eles fazem.
Então tratar de forma até mendicante um espírito é uma forma de falta de respeito, porque ele espera ter um tratamento equivalente ao seu nível.
Se for por exemplo um Rei, ele espera também estar se encontrando com alguém de seu nível.
Os vários elementos da ritualística tem muitos motivos e as ferramentas não são meros adereços ou para ajudar a focar a mente.
Apesar de parecer mais importante para o trabalho com dæmons, também muitos anjos fazem sim questão da abordagem mais formal. Isso não é apenas por respeito e como forma de participação com energia, mas também porque eles “gostam” daquela coisa e também certos elementos se destinam a ajuda-los a se aproximarem, pois eles vêm de outra dimensão próxima a nossa, e um dos motivos do uso de velas, incensos e símbolos é de criar um ambiente energético que facilite a sua presença.
E a maneira de abordagem é sim importantíssima tanto quanto os demais elementos do ritual.
Precisamos entender isso e até realmente desenvolver em nós mesmos tantas qualidades.
Ser firme não é o mesmo que ser rude tanto quanto ser respeitoso não é o mesmo que tornar-se servil.
E isso certamente vai influir na maneira como a pessoa trabalha com os espíritos e o tipo de resultados que esses apresentarão.
É preciso também entender o que significa ter autoridade para lidar com os espíritos. A autoridade é resultado de mérito e isso só ocorre devido a muitos anos de trabalho sério com os espíritos.
Entenda bem: autoridade tem que ser conquistada pelo seu trabalho dedicado e sério.
Eu pessoalmente acredito que uma abordagem pela força, ou pela submissão, dificilmente vai resultar no estabelecimento de algum tipo de relacionamento maior com o espírito. A abordagem sempre pela força implica em falta de confiança mútua. E a abordagem servil demais, ou como alguém pretendeu insinuar, “sempre tentando comprar” favores vai resultar até em vampirismo.
Certamente eles não serão nossos “amigos” nunca, mas sim como companheiros. Para eles, somos apenas uma fração no seu tempo de vida.
Mas nem sempre é tão fácil convencê-los a fazer algo.
Alguns são realmente reticentes até para se aproximar.
Outros pelas suas próprias características vão tentar se impor ou obter vantagens sem realmente atender ao que foi pedido. É o caso de certos espíritos mais quentes que por qualquer coisa podem enganar ou prejudicar o magista. E geralmente é por falha na ritualística ou deixar de observar suas descrições e assim deixando margem para que eles explorem nossas falhas.
Sabemos que os antigos grimórios foram escritos principalmente por membros do clero ou por nobres, pois a população em geral era analfabeta. E certamente esses nobres também tinham seu temor devido aos aspectos sociais onde facilmente alguém poderia ser perseguido ou sofrer represálias e punições. Num ambiente desses é claro que dæmons foram tantas vezes descritos como criaturas malévolas, apesar de vermos que tantos da Goetia, por exemplo, trazem ensinamentos em tantas áreas. Mesmo que ainda assim tenham aspectos mais mundanos pois são em maioria espíritos sublunares, chtonicos. Mas também tem os que são dæmons e também anjos e aí lembrando que Deus colocou seus espíritos angelicais para apresentar os dois lados e deixar que os humanos escolhessem.
Como resultado temos as imprecações maiores para obrigar o espírito caso necessário.
E as vezes é necessário mesmo quando esse deixa de ser respeitoso ou tenta se impor. Certamente para dar seguimento numa operação sob esse aspecto, o magista tem que obrigatoriamente estar embasado, ter mérito, força pessoal e tantas vezes, coragem para manter-se em pé e impor-se caso necessário.
E mesmo assim isso não será desrespeitoso pois nesse caso tantas vezes trata-se de “medir forças”. Ou seja, o espírito está tentando ser mais forte que o magista e não vai respeitá-lo se for um fraco suplicante. Uhm?
Então onde ficam os que acham que “se compra” trabalho dos espíritos? Se o espírito não quiser fazer, ele simplesmente vai pegar o que foi oferecido, enganar o magista e ponto final.
E certamente não é uma abordagem assim de uso amplo, por isso que no próprio Cap. XXII das Claviculas fala-se que “eventualmente se fazem sacrifícios”. E mesmo assim, os sacrifícios ali citados são referentes a uma época que não existe mais. Trocou-se o sangue por frutas, mel, grãos, água, vinho, etc. E são apenas eventualmente usados para potencializar uma operação e temos observado isso por tempo.
Uma das maiores oferendas continua sendo um sincero “obrigado” após receber o resultado de uma operação bem-sucedida.
No livro Ritual Offerings editado por Aaron Leitch e publicado pela Nephilim Press, 12 praticantes ocultistas apresentam de maneira até inédita seus trabalhos sobre o uso de oferendas nas práticas da magia. Ali eu comento sobre o risco da mistura de práticas que tem ocorrido.
Seguindo. Uma outra coisa que temos observado, é em relação ao citado acima sobre eles aceitar fazer algo e as vezes precisarem até serem convencidos para isso.
Aqui, a primeira abordagem é apresentar o caso e perguntar se o espírito “pode” fazer isso. Depois perguntar se ele “aceita” fazer. Nessa parte vai entrar a argumentação e se necessário negociar a operação e isso raramente envolve “oferendas”. Os relato de John R. King no Imperialarts são pródigos em exemplos desse nível e têm casos muito interessantes de se estudar.
Atenção: tem espíritos que ficam muito ofendidos caso recebam oferendas, portanto cautela!
Um acréscimo meu é perguntar ao espírito se têm sugestões alternativas para o assunto. E as vezes vão ter mesmo, até sugerindo outro espírito como já ocorreu, ou mostrando algum aspecto da situação, nesse caso estarão ajudando com uma espécie de oráculo sobre a situação e até trazendo esclarecimentos.
E uma coisa que é opinião minha e de muitos colegas, é de que se o espírito realmente não quer vir ou não quer fazer a operação, geralmente é muito melhor chamar outro. Gasta-se menos tempo, menos energia e na maioria das vezes aquele espírito originalmente escolhido não seria realmente adequado.
Mas como saber se o espírito veio?
Outra coisa que traz confusão sobre a abordagem com os espíritos refere-se a sua manifestação. Nem todos terão manifestação visual ou algo assim e tenho um artigo sobre isso.
Leia também: Sobre Manifestações Visuais em Rituais de Magia.
Se a pessoa não tem intuição, capacidade de vidência, visão de 3º olho ou algum tipo de capacidade extra-sensoria desenvolvidas, a minha sugestão é que ajam como se o espírito estiver presente desde a primeira conjuração. Contanto é claro que tenham preparado o ritual corretamente, mesmo usando ferramentas mais simples, mas tenha observado o protocolo do sistema.
De nada adianta os iniciantes ainda com poucos anos de prática ficarem insistindo e repetindo conjurações e até fazerem ameaças infantis pois geralmente o espírito, seja anjos ou dæmons está presente desde a primeira chamada! Com o tempo, aliás até bem cedo, a pessoa vai perceber outros sinais, como pequenas mudanças no ambiente, comichão na pele (como se fossem pequenos insetos), pequenos flashes de luz, aromas que surgem do nada, etc.
Mas serão muitas formas que confirmarão que o espírito está presente e essas são bem mais comuns de ocorrer.
Faça o ritual normalmente nesses casos e só bem depois, de preferência no dia seguinte, faça uma leitura da oráculo, como o Tarot para avaliar a operação. Também é comum ocorrer sonhos e situações de coincidências no mundo humano logo nos primeiros dias. No meu caso, além das intuições e manifestações durante o ritual, eu sempre tenho sonhos que são claramente ligados aos espíritos com que trabalhei.
Eu tive uma boa quantidade de manifestações e visões nessas décadas para não estar preocupado em que cada ritual seja até um show de circo só para satisfazer o ego de alguém. É claro que é muito interessante manifestações maiores, mas me interessa muito mais os resultados do que ficar horas repetindo ameaças só para obrigar o espírito a aparecer visivelmente sem nenhum outro motivo realmente válido para isso.
Tudo isso, vai fazer parte do processo de até estabelecer um relacionamento com alguns espíritos, que serão os que lidaremos mais vezes e também descobriremos possuírem tantas outras aptidões tornando-se normal que se trabalhe com alguns que vão atender a maior parte das situações.
P+
10/05/2018
Veja também:
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- Goetia Vai Resolver Meu Problema de Relacionamento, Dinheiro ou Qualquer Coisa? Ou Outra Magia?
- Qual É o Melhor Espírito Para Uma Situação?
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Consultas e atividades com Gilberto Strapazon
Consultas e Trabalhos em Magia - Portuguese text
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1 comentário:
Um ótimo artigo, muito esclarecedor!
Parabéns!
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